A Campanha Janeiro Branco, instituída pela Lei Federal 14.556/23, é um movimento brasileiro que coloca a saúde mental no centro das atenções. O objetivo é conscientizar indivíduos e instituições sobre a importância de se construir uma cultura de saúde emocional em todas as relações humanas.

Este ano, o tema da campanha é: “O que fazer pela saúde mental agora e sempre?”.

Conversamos com a Dra. Miryam Mazieiro, diretora de Psicologia da Gattaz Health, que trouxe reflexões e orientações valiosas sobre o tema.

1. Quais são os sinais mais comuns de que um profissional da saúde pode estar enfrentando problemas de saúde mental?

Segundo a Dra. Miryam, os primeiros sinais de estresse incluem:

  • Cansaço constante, mesmo após o sono;
  • Falta de energia para atividades que antes eram prazerosas e para o trabalho;
  • Dificuldades de concentração, memória e atenção;
  • Impaciência, irritabilidade e desânimo;
  • Queixas físicas difusas que não configuram uma doença específica.

Esses sintomas, se não tratados, podem evoluir para quadros mais graves, como transtornos de ansiedade, depressão, esgotamento profissional (Burnout) e fadiga extrema.

2. Um estudo recente da Gattaz Health aponta que a depressão é um dos grandes males que acometem trabalhadores. Quais fatores contribuem para esse cenário, especialmente na área da saúde?

A Dra. Miryam destaca que tanto fatores individuais quanto ambientais contribuem para o adoecimento mental e, ambos devem ser analisados e tratados com muita atenção.

Fatores individuais: Aspectos da personalidade perfeccionista, dificuldade de delegar, desejo de ser indispensável, ambição, mau gerenciamento da relação trabalho x vida social e a incapacidade de dizer “não” são alguns exemplos.

Fatores ambientais: Comunicação deficiente no ambiente de trabalho, falta de autonomia e de feedback positivo, ausência de apoio social e alta demanda de trabalho são fatores psicossociais que impactam o bem-estar.

Para reverter esse cenário, é essencial olhar criticamente para o ambiente de trabalho e instituir mudanças organizacionais que promovam saúde mental. Haja vista, que é muito comum às empresas olharem mais para o aspecto individual, buscando isentar-se da responsabilidade relacionada aos casos de adoecimento mental, culpabilizando o trabalhador por isso.

3. Como as empresas e órgãos públicos podem criar um ambiente de trabalho que promova o bem-estar mental e emocional de seus colaboradores na área da saúde? E quais ações práticas podem ser implementadas para ajudar a prevenir o esgotamento emocional e a síndrome de Burnout nesses profissionais?

De acordo com a Dra. Miryam, há instrumentos interessantes que nos ajudam a medir os riscos como sobrecarga, demandas quantitativas e emocionais, ritmo acelerado de trabalho, e as empresas devem:

Identificar riscos psicossociais: Com a reformulação da NR 01 em 2025, as organizações são obrigadas a mapear esses riscos.

Implementar ações preventivas: Treinamento de lideranças, palestras e oficinas para minimizar ou extingui os riscos identificados.

Oferecer suporte ao trabalhador: Programas de saúde mental e atendimento especializado, por meio de convênio médico, são fundamentais para tratar os aspectos individuais.

4. De que forma a gestão e os líderes podem atuar de maneira mais empática e acolhedora para apoiar a saúde mental de suas equipes?

Líderes bem capacitados são fundamentais para criar um ambiente de segurança psicológica, onde conflitos podem ser resolvidos sem medo de punições e vulnerabilidades são acolhidas:

  • ter espaços seguros para tratarem dos conflitos da equipe;
  • para promoverem a aceitação dos membros, sem julgamentos ou críticas desconstrutivas;
  • promover o aprendizado, pois os erros poderão ser tratados e não escondidos, e revertidos em aprendizado institucional.

Além disso, líderes devem ser apoiados pelas empresas, pois também enfrentam pressões e desafios emocionais.

5. Que mensagem você deixaria para os profissionais da saúde que enfrentam desafios emocionais e para as instituições que desejam apoiá-los de forma mais efetiva?

A Dra. Miryam reflete:

Por que estamos tão cansados na atualidade? A cultura atual exige um desempenho maximizado, que muitas vezes não escolhemos, mas nos influencia. Para mudar isso, é necessário reconhecer essa imposição e decidir agir de forma diferente. Mudança é vista com receio, pois envolve o desconhecido e a perda de controle, mas é importante para a saúde mental e o desenvolvimento pessoal. Indivíduos abertos à mudança são mais curiosos, criativos e adaptáveis. No ambiente de trabalho, a flexibilidade favorece a igualdade, a aceitação da diversidade e o crescimento pessoal. A saúde mental também depende dessa abertura, pois ela promove inovação, melhores relações interpessoais e maior resiliência diante dos desafios.

Que tal fazer de 2025 o ano da transformação? Colocar isto em prática e promover a mudança em nós mesmos?

Participe do Janeiro Branco

Convidamos todos os profissionais e instituições a refletirem sobre a saúde emocional e a adotarem práticas que promovam bem-estar. Para mais informações, acesse: Janeiro Branco. (https://janeirobranco.org.br/campanha-janeiro-branco/materiais/)

Saúde mental importa. Cuide de você e de quem está ao seu redor!

Sobre:

  • Dra. Miryam Mazieiro é Diretora de Psicologia da Gattaz HR. e também, Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da USP e Psicóloga do Trabalho no Instituto de Psiquiatria (IPQ) do Hospital das Clínicas da FMUSP.
  • Gattaz Health é uma empresa pioneira em saúde mental e bem-estar no ambiente corporativo. Com metodologia proprietária desenvolvida por experts e reconhecida globalmente, atua no mercado há 10 anos. Recentemente, publicou estudo com dados alarmantes: entre mais de 100 mil colaboradores de 35 empresas brasileiras, 13% foram diagnosticados com depressão grave e 43% apresentaram queixas relacionadas.

Esses números reforçam um cenário preocupante para as empresas. A depressão é a principal causa de incapacidade entre pessoas de 15 a 44 anos, gerando custos globais estimados em US$ 250 bilhões por ano. Além disso, o impacto vai além das finanças pessoais e empresariais: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que problemas de saúde mental resultem na perda de 12 bilhões de dias de trabalho anualmente, representando uma perda de cerca de US$ 5 trilhões para a economia global.