Em entrevista ao CRTR-SP, a psicóloga clínica Fabiana Torrecillas fala a respeito deste tema delicado e importante para os profissionais da saúde

 

Fechando o mês Setembro Amarelo, entrevistamos a psicóloga clínica Fabiana Torrecillas (CRP SP 06/569130), com mais de 20 anos de atuação na área, formada pela PUC/SP e que nos últimos anos tem se dedicado a temática do suicídio em seus estudos. Um tema bastante importante e muito falado neste mês que se encerra, pela conscientização da prevenção ao suicídio. 

 

Qual a orientação para profissionais da saúde que enfrentam uma desgastante pandemia ao longo do ano, com estresse elevado (plantões muito longos, riscos de contaminação, etc.), e possível aproximação aos temores do suicídio? 

Sabemos que com a pandemia nossa rotina foi muito atingida. O novo implicou em mudanças, reinvenções e exigiu ainda mais de algumas áreas da atuação, principalmente as ligadas à saúde. Costumo dizer que não estamos vivendo o IDEAL, mas, o REAL, sendo assim, temos que buscar formas de driblar o estresse, a sobrecarga, a exaustão de cargas elevadas de trabalho. Pergunto: O que você pode fazer nas horas vagas, nas folgas, nos momentos em que não está trabalhando para relaxar? Que coisa tem feito que lhe dão prazer (não estou dizendo que trabalhar não dá prazer!)? Muitos podem enfrentar uma dupla ou tripla jornada, aumentando assim a fadiga, as cobranças, os aborrecimentos, as preocupações. Consegue no deslocamento de um local para o outro ouvir uma música? Conversar com amigos, ou familiares pelas redes sociais sobre amenidades e rir um pouco? Curtir mais a família, praticar uma atividade física, ou meditação, ou algo de lazer, seja alguma atividade artística (pintar, cantar, dançar), um crochê, jogar um jogo, ler um livro, passear no parque, enfim, qualquer coisa que te tire da rotina. A dica é valorizar os momentos bons e aproveitá-los da melhor forma possível, mesmo que sejam poucos em quantidade (1 dia na semana por exemplo) e período (1 horinha do dia). A ideação suicida, ou seja, pensar no suicídio como uma forma de acabar com um problema é algo que vai sendo construído, então se você já identifica que não está bem, que está angustiado demais, e se vê com pouca capacidade de administrar isso sozinho, divida com alguém, peça ajuda ou procure um psicólogo. Problemas todos nós temos e tudo bem não dar conta de tudo! Então, não deixe que eles cresçam a ponto do insuportável e insustentável. Vamos encontrar formas de ressignificar esse sofrimento em busca de uma solução saudável. 

 

A respeito da síndrome de Burnout, como ela pode afetar a saúde mental dos profissionais? 

A Síndrome de Burnout está na lista das doenças relacionadas ao trabalho. Estudos apontam a predominância nos profissionais que têm contato ou relações interpessoais de grande intensidade de afeto, de cuidado, como é o caso dos profissionais da saúde, atingindo tanto mulheres quanto homens. A satisfação para esses profissionais está em ajudar, fazer o bem, tornar os seres melhores, felizes e curados, exigindo muito deles e levando-os a um esgotamento físico e emocional. O contexto atual está exigindo ainda mais força e produzindo um enorme desgaste afetivo e um enfraquecimento pessoal. Consequentemente vemos um número crescente de pessoas em sofrimento psíquico e baixa realização profissional.  

 

Quais são os sintomas e indícios mais frequentes que podem servir de alerta para início de tratamento ou acompanhamento de pessoas (especialmente profissionais de saúde) em relação ao suicídio? 

O suicídio é um fenômeno multifatorial. Vamos encontrar causas internas como por exemplo a depressão, baixa autoestima, transtornos de personalidade, solidão e causas externas como o final de um relacionamento, brigas em família, desemprego e muitas outras. Elas podem vir isoladas ou interligadas e geralmente levam as pessoas a algumas mudanças no comportamento como o isolamento, a tristeza contínua, alterações nos hábitos alimentares, no discurso com frases do tipo: “Minha vida está uma desgraça!” “Não tenho mais prazer em viver, perdeu a graça!” “Preferia estar morto a ter que passar por isso!”, postagens melancólicas ou conteúdos deprimentes e por aí a fora. Note que a pessoa com ideação vai dando sinais que precisamos estar atentos! Dê abertura para a pessoa falar das suas angústias e aflições. Ouça sem julgamento, não menospreze o sofrimento dela. Cada um lida de uma forma com seus problemas então, não os compare! Diga palavras de apoio do tipo: “Sei que está sofrendo e quero lhe ajudar”, “Estou aqui se precisar!”, ofereça seu ombro amigo e sempre que possível faça um gesto de conforto, um abraço ou um carinho.  

 

Qual a melhor forma de pedir ajuda ou orientação de um especialista com relação a este tema? 

Ao notar que os pensamentos estão dominando e afetando diretamente a rotina pessoal e profissional é hora de buscar apoio profissional, seja o psicólogo e/ou o psiquiatra. Lembre-se! As causas em sua maioria podem ser tratadas então, estamos falando de um problema que pode ser evitado! Não tenha vergonha de pedir ajuda e nem se considere um fracassado por não conseguir lidar com algumas questões. O profissional vai acolher sua dor da alma, te ouvir sem julgamento e lhe auxiliar a identificar o foco do seu problema e lhe ajudar nesse processo de mudança. 

 

Sei que está sofrendo e quero lhe ajudar, estou aqui se precisar!

 

A ajuda pode chegar através de um amigo, parente, colega de trabalho, entre outros.

Fundado em São Paulo, o CVV (Centro de Valorização da Vida) é uma das mais antigas ONGs do país e atua de forma constante no apoio emocional e de prevenção por meio de auxílio via telefone,  e-mail ou pessoalmente. Para mais informações, disque grátis 188 ou acesse  CVV.