Filho das águas, o técnico em radiologia Luis Gustavo Menezes de Lira relata como foi assumir o primeiro emprego em plena pandemia, enfrentando um dos maiores desafios da sua vida
Sou do litoral paulista, nasci e me criei no mar. Entre o azul do céu e das águas que me cercam, descobri – em um belo dia de 2019 – que um dia enxergaria, não somente as belezas naturais do mundo, mas também, o ser humano de um jeito diferente.
No auge dos meus 22 anos, me formei técnico em Radiologia na escola técnica Biotec. Entre idas e vindas de Mongaguá à Praia Grande, concretizei meu desejo de poder ajudar ao outro. A Radiologia entrou na minha vida, como um sopro do vento numa tarde de verão.
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A partir de muito esforço e dedicação durante o período de estágio, em que trabalhei até em feriados e véspera de Natal, conquistei meu primeiro emprego no momento mais crítico do mundo. Quando fomos atacados por um pequeno, porém, avassalador vírus.
Com muito orgulho vesti meu jaleco e encarei as ondas dos Raios-X. Na linha de frente contra a Covid-19, na UPA do bairro Quietude, em Praia Grande, enfrentei uma batalha que para mim, iniciante na radiologia, foi um desafio. Encarar um novo emprego em plena pandemia não foi fácil, tive muitos receios: enfrentar o vírus; não corresponder às expectativas do meu emprego; levar a doença para minha família [mesmo seguindo todos os protocolos e recebendo os EPIs necessários], foi sufocante. Porém, em nenhum momento, pensei em desistir, ao contrário, me fortaleci e segui confiante de que todo o aprendizado e solidariedade que trago comigo estavam sendo bem aplicados.
Diante desta turbulência de sentimentos posso dizer que o dia a dia na área da saúde é uma luta diária, em meio a tantas mortes e casos de Covid-19 que só crescem, agradeço a Deus pela proteção que dá a cada um de nós que está na linha de frente. E por estar tão próximo da linha tênue da vida e da morte, paramos pra perceber que são as pequenas coisas que realmente importam e são especiais.
Para mim, o maior desafio dessa pandemia foi lidar com as perdas. Ver diversas pessoas perdendo seus entes queridos é angustiante. É triste perceber que por mais que lutemos alguns de nossos pacientes e familiares são vencidos pela doença. Perdi um tio para a Covid-19. É triste também, saber que mesmo quando tudo isso acabar, nossa batalha terá sido concluída com o custo de muitas vidas. Dói.
Entretanto, o amor que tenho pela profissão me dá forças a todo instante e a cada dia de trabalho concluo que a profissão das técnicas radiológicas nos permite ver o mundo de uma outra forma; ver as pessoas com outros olhos. Nós profissionais das técnicas radiológicas somos os olhos da medicina, não olhos que veem por fora, mas olhos que enxergam por dentro. Nós contribuímos para o diagnóstico precoce que muito colabora para as estratégias de guerra a serem aplicadas para o enfretamento de qualquer doença. Isso sim, supera qualquer desafio.
Antes do despertar em 2019, nunca me vi trabalhando na área da saúde, mas hoje a acho fascinante e como a cada dia novas tecnologias são implementadas, os estudos não podem parar. Quero explorar ao máximo o universo dos Raios-X. Pretendo me especializar em Tomografia Computadorizada, por enquanto vou me dedicar às especializações, e futuramente, fazer a graduação de tecnólogo.
Como dica aos meus colegas de profissão, especialmente aos que estão concluindo os estudos, se esforcem o máximo que puderem durante os estágios, criem uma boa rede de contatos, pois com toda certeza conhecimento, dedicação, esforço e networking são a mistura perfeita para a conquista do primeiro emprego. Não desistam dos seus sonhos.
TR. Luis Gustavo Menezes de Lira
Depoimento dado ao Quadro Desafios da Pandemia | CRTR-SP
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